terça-feira, 1 de janeiro de 2019


O Problema das Relações


“Muitas vezes tenho perguntado a mim mesmo porque vamos a reuniões ouvir outros falarem, porque desejamos considerar juntos nossos problemas e, enfim, por que razão temos problemas.

Em todas as partes do mundo, os entes humanos parecem ter uma infinidade de problemas. E vamos a reuniões como estas na esperança de adquirir uma certa ideia, uma fórmula, um método de vida, uma coisa que nos seja útil e nos ajude a vencer nossas inúmeras dificuldades, a resolver o complexo problema do viver. E, todavia, embora viva há milhões de anos, o homem ainda está a lutar, a tatear em busca de alguma coisa, tal como a felicidade, a realidade, ou uma mente imperturbável, capaz de viver neste mundo abertamente, de modo são e venturoso. E, entretanto, inexplicavelmente, não parecemos capazes de descobrir uma realidade que nos dê total e duradoura satisfação.

E, agora, que aqui nos encontramos, estou a interrogar-me por que razão nos reunimos ou trocamos palavras uns com os outros. Já se fez tanta propaganda, tanta gente já nos disse como devemos viver, o que devemos fazer, o que devemos pensar; inventaram-se tantas teorias : o que o Estado compete fazer, o que a sociedade deve ser; e, em toda parte, os teólogos apregoam um dogma fixo ou uma crença, em torno da qual constroem fantásticos mitos e teorias.

E, pela propaganda, por essa perpétua torrente de palavras, vamos sendo moldados, nossas mentes condicionadas, e gradualmente perdemos toda a SENSIBILIDADE...

Como dissemos, vamos considerar esta questão, mas não intelectualmente, que significa “fragmentariamente”. Dividimos a vida entre intelecto e emoções, dividimos em compartimentos toda nossa existência... Estamos fragmentados em nacionalidades, classes, separações essas que se alargam e aprofundam cada vez mais. Consideremos essa questão da relação, questão importantíssima, porque viver é estar em relação; e, considerando-a, indaguemos o que significa viver. Ao tratarmos essa questão não podemos considera-la fragmentariamente, porque se tomarmos uma única parte da totalidade da existência e procurarmos resolver só essa parte, a questão fica de modo nenhum resolvida. Mas talvez tenhamos a possibilidade de compreender esta questão das relações e de viver diferentemente se a considerarmos em seu todo.

...Só podemos compreender uma coisa quando a olhamos (não com olhar prolongado, exercitado do artista, do cientista ou do homem que se exercitou para “olhar”), só podemos compreender uma coisa quando a olhamos com toda atenção, quando “a vemos”, em seu conjunto, num relance de olhos. E assim vós sentireis LIVRES...”

*Trechos da IV palestra de KRISHNAMURTI em Paris -25/04/1968 

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