O Problema
das Relações
“Muitas vezes tenho perguntado a mim mesmo porque vamos a reuniões ouvir outros falarem, porque desejamos considerar juntos nossos problemas e, enfim, por que razão temos problemas.
Em todas
as partes do mundo, os entes humanos parecem ter uma infinidade de problemas. E
vamos a reuniões como estas na esperança de adquirir uma certa ideia, uma fórmula,
um método de vida, uma coisa que nos seja útil e nos ajude a vencer nossas
inúmeras dificuldades, a resolver o complexo problema do viver. E, todavia,
embora viva há milhões de anos, o homem ainda está a lutar, a tatear em busca
de alguma coisa, tal como a felicidade, a realidade, ou uma mente imperturbável,
capaz de viver neste mundo abertamente, de modo são e venturoso. E, entretanto,
inexplicavelmente, não parecemos capazes de descobrir uma realidade que nos dê
total e duradoura satisfação.
E, agora,
que aqui nos encontramos, estou a interrogar-me por que razão nos reunimos ou
trocamos palavras uns com os outros. Já se fez tanta propaganda, tanta gente já
nos disse como devemos viver, o que devemos fazer, o que devemos pensar;
inventaram-se tantas teorias : o que o Estado compete fazer, o que a sociedade deve
ser; e, em toda parte, os teólogos apregoam um dogma fixo ou uma crença, em
torno da qual constroem fantásticos mitos e teorias.
E, pela
propaganda, por essa perpétua torrente de palavras, vamos sendo moldados,
nossas mentes condicionadas, e gradualmente perdemos toda a SENSIBILIDADE...
Como dissemos,
vamos considerar esta questão, mas não intelectualmente, que significa “fragmentariamente”. Dividimos a vida entre intelecto e emoções, dividimos em
compartimentos toda nossa existência... Estamos fragmentados em nacionalidades,
classes, separações essas que se alargam e aprofundam cada vez mais. Consideremos
essa questão da relação, questão importantíssima, porque viver é estar em relação;
e, considerando-a, indaguemos o que significa viver. Ao tratarmos essa questão
não podemos considera-la fragmentariamente, porque se tomarmos uma única parte
da totalidade da existência e procurarmos resolver só essa parte, a questão
fica de modo nenhum resolvida. Mas talvez tenhamos a possibilidade de compreender
esta questão das relações e de viver diferentemente se a considerarmos em seu
todo.
...Só
podemos compreender uma coisa quando a olhamos (não com olhar prolongado,
exercitado do artista, do cientista ou do homem que se exercitou para “olhar”),
só podemos compreender uma coisa quando a olhamos com toda atenção, quando “a
vemos”, em seu conjunto, num relance de olhos. E assim vós sentireis LIVRES...”
*Trechos da IV palestra de
KRISHNAMURTI em Paris -25/04/1968
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