MEDO E
PRAZER
No que
diz respeito à maioria de nós, o medo é nosso constante companheiro; quer a
pessoa esteja consciente dele, quer não, ele está presente em algum escuro
recesso da mente; e nós estamos perguntando se é possível a mente livrar-se,
completa e totalmente dessa carga...
A maioria
de nós já teve temores físicos, como: o medo de uma doença, da ansiedade que
ela inspira e da dor com que nos ameaça, ou a presença de um perigo físico...
Consideremos
a dor física - Sofresses dores anteriormente e tendes medo de que elas voltem;
esse medo é causado pelo pensamento, pelo pensares numa coisa que aconteceu um
ano ou ontem, e que poderia tornar acontecer amanhã...
PODE ESSE
MOVIMENTO DO PENSAMENTO QUE GERA O MEDO NO TEMPO, E QUE É TEMPO, CESSAR?
Estamos
perguntando se a atividade do pensamento, que gera, cria, sustenta e nutre o
temor; pode cessar naturalmente sem a mínima resistência. Antes de podermos
descobrir a verdadeira resposta, devemos
examinar também o desejo de prazer; porque, aqui também, é o pensamento que
sustenta o prazer....
O Medo e
o prazer são as duas faces de uma mesma moeda; não podemos se livrar de um, sem
nos livrarmos do outro também...
O
pensamento está sempre a buscar alguma coisa, a sustentar o medo ou a evitá-lo;
produz também o prazer, pelo nutrir continuamente a lembrança de uma experiência
aprazível.
Estamos aprisionados
nessa rede do medo e do prazer – fatores de sofrimento - COMO PODE ISSO
TERMINAR?
- Vós
tendes à obrigação de resolver estas questões se desejais uma vida de espécie totalmente
diferente, uma sociedade diferente, uma nova moralidade...
- (INTERROGANTE):
Dissestes que a reação instintiva de autoproteção, diante de um animal
selvagem, é inteligência, e não medo, e que o pensamento que gera medo é
inteiramente diferente.
-
(KRISHNAMURTI): Não são diferentes? Não vedes a diferença entre o pensamento
que gera e nutre o medo, e a inteligência que diz “Cuidado!” O pensamento criou
o nacionalismo, o preconceito racial, a aceitação de certos valores morais; mas
o pensamento não vê a periculosidade dessas coisas. Se a visse, haveria então a
reação, não de medo, mas da inteligência, reação que seria idêntica à do
encontro com uma serpente. Diante da serpente, há uma reação natural de
autoproteção; diante do nacionalismo, que é produto do pensamento, que separa
os homens, e é uma das causas da guerra, o pensamento não vê o perigo.
(Trechos
da palestra de KRISHNAMURTI 26 de julho de 1970).